Nhamundá-AM: Nogueira... A Caminho do Céu!
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Nogueira... A Caminho do Céu!

Por Mauro Nogueira
UM HOMEM DETERMINADO E PREDESTINADO
Em 25 de março de 1927 nasceu João Paulo Nogueira Filho, chamado Nogueirinha e na maturidade Seu Nogueira.
Foi no lago do piraruacá, hoje município de Terra Santa/Pará.
Começou a trabalhar desde cedo, ajudando o pai que era comerciante. Caçava e pescava. Depois percebeu que poderia vender coisas que o pai não vendia como: bebidas e fumo. -Seu pai era pastor-. Assim começou a ser comerciante também.
Serviu no Tiro de Guerra e junto com o seu irmão Rubens, foi convocado pelo pai para dar estrutura aos irmãos mais novos que iriam estudar na capital Belém.
Trabalhando e lendo muitos livros tornou-se autodidata. Sua cultura ficou famosa e o levou a ser jornalista correspondente em jornais de Belém, Fortaleza e Rio de Janeiro.


Na década de 60 a sociedade JP nogueira & filhos chegou ao fim. Meu avô foi morar em São Paulo, ficando tio Rubens e papai na região onde tudo começou.
Em 1971, ano de grandes prejuízos, minha mãe apoiada por seu pai, trouxe o convite para que o marido fosse se estabelecer em Abaetetuba/Pará, ele não aceitou. Preferira recomeçar aqui mesmo. Como tio Rubens se instalara em Terra Santa, ele pensara em Faro, quando foi convidado por amigos a ficar em Nhamundá, o que acabou aceitando em 1974. 
Desde então, dedicou sua vida ao desenvolvimento do comércio local e adjacências. Mas não abandonou Faro, trabalhou com muitos comerciantes dali, somente afirmava que Nhamundá ficava estrategicamente bem localizada.
Em companhia de sua amiga e esposa Dona Belém construíram uma locomotiva de progresso e investiram tudo o que ganharam em Nhamundá, proporcionando o crescimento de todos.
No barco Áries, onde tudo deu início, pessoas de todas as comunidades vinham para negociar seus produtos e comprar mercadorias, também comerciantes da cidade como o seu Areolino e o Piragiba, são tantos que nem dá pra citar. Na verdade o começo de muitos agora prósperos comerciantes foi naquele camarote/escritório do nosso querido Nogueira.
Foram toneladas de pirarucu, peixe liso, juta e malva, farinha de mandioca, caças diversas; milhares de palmos de madeira de lei, hectolitros de castanha; tudo o que era a riqueza da região encontrava no seu Nogueira a referência para comercialização.
Empreendedor, passou a vida construindo batelões, gerando trabalho aos construtores navais, reformando barcos e negociando com quem se interessasse. Comprando e vendendo terrenos e casas em Nhamundá, sem apego nem usura, sem agiotagem nem especulação financeira, simplesmente pela oportunidade de servir.
Qualquer pessoa sentava à sua mesa e comia. No Áries eram servidas incontáveis refeições para fregueses e amigos. 
A alegria em ser útil era o que movia esse casal. Centenas de funcionários públicos tinham deles a confiança para poderem desempenhar seus trabalhos. Atendiam suas necessidades básicas e pagavam as contas somente quando recebiam os meses atrasados. 
Também vinham os ribeirinhos buscando “fiado” o financiamento para poderem trabalhar na roça, na juta, na pesca, na madeira etc e assim sustentarem sua família. Quantos pais puderam criar seus filhos desta forma...
O melhor é que quase todos honravam com a confiança depositada. 
Seu Nogueira era um homem do seu tempo. Vivia conforme a cronologia de seu corpo. Gostava de pescar tucunaré de currico, jogar sinuca e tomar umas cervejas com os amigos. Foi um grande apreciador de festas e um excelente dançarino. Elegante e galanteador sem nunca violar o bom convívio na sociedade.
Quando a idade chegou mudou sua postura, dedicou-se ao trabalho e ao convívio dos amigos. Aos domingos era infalível o jogo de dominó com bolinhos de piracuí de jacaré e o tradicional churrasco, que fizeram parte de sua rotina por quase duas décadas. 
Não contarei suas histórias aqui porque são inúmeras. Um Homem que virou lenda, o Homem de branco, o amável sedutor, o exímio jogador de sinuca, o poeta do improviso, a Enciclopédia Ambulante capaz de responder corretamente todas as perguntas que lhe faziam.
Enumerarei duas de suas muitas virtudes: o afinco pelo trabalho e a confiança depositada ao próximo. Nisso ele observava as máximas de Jesus: “trabalhai todos os dias de tua vida afim de não servires de incomodo ao teu irmão” e ”façais ao teu próximo o que gostarias que lho fizessem”. Eu gostaria de acreditar nas pessoas o tanto quanto ele acreditou.
Obrigado Seu Nogueira, pelo legado que deixastes aos teus descendentes e teus amigos, todo aquele que tiver o mínimo de sentimento de gratidão saberá exaltar seu nome toda vez que falarmos em determinação, amizade, confiança e trabalho. Estás perpetuado em nossos corações e mentes com aquele SORRISO que iluminou as vidas de tantas pessoas que te cercaram como os nossos queridos amigos Raimundo Sena o “Sapo” e Seu Luiz Moura, entre tantos.
QUE DEUS TE ILUMINE, SEMPRE!
Bem, terminamos de ler o relato do amigo Mauro Nogueira. Um registro que deve ser guardado por todos, em especial pelos amigos e demais pessoas que tiveram o privilégio de conhecer o Senhor João Paulo Nogueira Filho.
Em essência, o grande desbravador de Nhamundá, embora tenha sido um empresário muito bem sucedido, como se observa no depoimento do filho, o senhor Nogueira Filho, foi um mão aberta e portador de um grandioso coração. Digo isso porque, já tive oportunidade de conhecer meia dúzia de comerciantes que não despachavam nem cegos.
Toda a comunidade nhamundaense é conhecedora que existiu dois Nhamundás. Um Nhamundá, antes do grande empreendedor Nogueira Filho e o outro após a sua chegada. Voltando no tempo, tente visualizar uma cidadezinha sem o mínimo de infraestrutura, sem os principais gêneros alimentícios e sequer sem uma casa bancaria. Já visualizou? Pois assim era o município de Nhamundá.
A total falta de políticas públicas numa época após a revolução de sessenta e quatro estrangulou muitos municípios no estado do amazonas e Nhamundá foi um dos mais prejudicados. Pergunte-se: e como viveram os funcionários públicos da época enfrentando profundas crises com seus salários atrasados quando ainda na década de setenta esperavam até oito meses para recebê-los? A resposta é simples. Todos se socorriam com o Banco Naval JP Nogueira Filho que funcionava dentro do Barco Áries.
O gargalo do subdesenvolvimento não parava por ai. Centenas de ribeirinhos, especialmente aqueles que viviam da agricultura de subsistência dezenas de vezes não dispunham de recursos para adquirir um simples medicamento, só lhes restavam um salva vidas. Comprar fiado no JP Nogueira e pagar na outra safra. E o Nogueira, pacientemente aguardava.
Inúmeros são os casos de pequenos agricultores que, depois de muito lutarem resolveram se embrenhar nas matas no arriscado trabalho de extração de madeira e agora pergunte-se: como faziam para se viabilizarem? Simples. Socorriam-se com o senhor Nogueira. Ele liberava os mantimentos e muitas vezes os fregueses ainda levavam uns trocados no bolso para pagar quando as águas subissem. Ou seja, somente na outra safra.
Há um sem número de casos como esses que daria para escrever uma enciclopédia. Agora, não devemos esquecer que, grande parte hoje, dos empresários locais, é bom que se registre, estão muito bem sucedidos, iniciaram as suas vidas atrás do balcão do senhor Nogueira. É verdade que alguns faliram, porque foram péssimos alunos, mas, os bons estão ai para contar a história.
Alguns até podem insinuar em dizer que as mercadorias que o Nogueirinha vendia não eram muito baratas. Até podem, mas, não devem. Visto que, nenhum teve a coragem de colocar os próprios recursos no fogo como ele sabiamente arriscou e o melhor, sempre como o único objetivo de atender quem quer que fosse.
E quantos péssimos empresários donos de construtoras estabelecidos de Manaus foram para Nhamundá, e financiaram montantes expressivos de material de construção para atender a prefeitura municipal e o governo do Estado e nunca retornaram para quitar as suas dívidas no JP Nogueira Filho? Eu acho que ultrapassou uma centena. Sem exagero.
A verdade é que o município de Nhamundá tem um débito muito grande para com esse senhor e seus familiares. Faz tempo que os governantes deveriam ter ao menos feito uma homenagem cívica em reconhecimento pelos relevantes trabalhos que esse grande empresário arduamente, trabalhando de domingo a domingo fez por todos os munícipes.
É com tristeza que se assistiu à partida de uma lenda do povo nhamundaense. Um cidadão visionário que sempre esteve à frente do seu tempo. Bom filho, bom pai e bom Amigo.
Assim, neste momento de dor, aproveito a oportunidade para transmitir os meus sentimentos a toda a sua família, parentes e amigos. Aceitem os meus votos de profundo pesar neste momento de perda pelo grande cidadão exemplar que foi.
Que Deus o guarde eternamente no palácio Celestial.